Jorge Luiz Hessen
Muitas pessoas vivem angústias profundas em torno das
diretrizes comportamentais na área sexual e isso é compreensível em
nosso estágio de humanidade. Por isso, escrevemos alguns argumentos
sobre o tema, a fim de que possamos com a Doutrina espírita aprender um
pouco mais.
O Espiritismo explica baseado no
livre-arbítrio, no percurso de vidas anteriores e na evolução moral de
cada um, como estes assuntos devem ser tratados. Lembrando sempre que
“cada caso é um caso e muito particular”.
Uma dessas
ansiedades é a masturbação, que segundo Sigmund Freud, é envolvida em
muito preconceito, graças ao dogmatismo religioso que estigmatiza a
sexualidade. Vai distante a época em que se decretava que a masturbação
conduzia à loucura e ao inferno. Normal no adolescente que está
descobrindo a sexualidade, freqüente nos corações solitários, o problema
é que ela favorece a viciação, aguçando o psiquismo do indivíduo com
sensualidade avivada. Por outro lado, obsta a sublimação das energias
sexuais, quando as circunstâncias nos convocam à castidade,
incitando-nos a canalizá-las para as realizações mais enobrecedoras.
Vale dizer: há uma energia sexual que precisa ser controlada, não
necessariamente através da prática sexual, mas direcioná-la a outras
atividades, inclusive a prática da caridade.
A consciência
nos sussurra que relação sexual presume dois parceiros. O autoerotismo
não deixa de ser uma busca de “prazer” egoísta, por isso mesmo, toda
prudência é imprescindível. Na área sexual, urge vigilância permanente,
pois, na maioria das vezes ao se masturbar, a criatura não está tão
solitária como imagina. Espíritos das sombras, viciados no sexo, muitas
vezes estimulam este vício solitário, prejudicando casais quando o
parceiro opta por masturbar-se. Entretanto, mister considerar que cada
caso é um caso, sem desconsiderar jamais que o equilíbrio e a disciplina
mental precisam ser alcançados. Por isso o Espírito Emmanuel, no livro
"O Consolador", questão 184, psicografado por Chico Xavier, orienta-nos
que, “ao invés da educação sexual pela satisfação dos instintos, é
imprescindível que os homens eduquem sua alma para a compreensão sagrada
do sexo”.
O uso indevido de qualquer função sexual produz
distúrbios, desajustes, carências, que somente a educação do hábito
consegue harmonizar. Afinal, o homem não é apenas um feixe de sensações,
mas, também, de emoções, que podem e devem ser dirigidas para objetivos
que o promovam, nos quais centralize os seus interesses, motivando-o a
esforços que serão compensados pelos resultados benéficos.
A vida saudável na esfera do sexo decorre da disciplina, da
canalização correta das energias, da ação física: pelo trabalho, pelos
desportos, pelas conversações edificantes que proporcionam resistência
contra os arrastamentos da sensualidade, auxiliando o indivíduo na
conduta. Muitas pessoas consideram o prazer apenas como sendo uma
expressão da lascívia, e se esquecem daquele que decorre dos ideais
conquistados, da beleza que se expande em toda parte e pode ser
contemplada, das encantadoras alegrias do sentimento afetuoso, sem
posse, sem exigência, sem o condicionamento carnal.
Será
que devemos depreender que o Espiritismo proíbe toda a atividade
sexual?! De modo algum. O Espiritismo nada proíbe. Deixa ao
livre-arbítrio, à decisão consciente de cada um a atitude a tomar.
Limita-se a dar orientação e a demonstrar que atitudes mal tomadas dão
intranquilidade e insatisfação e coloca-nos perante a realidade e
vantagens do uso consciente da vida.
A Doutrina Espírita
apresenta a sexualidade despida da conotação religiosa dogmática que
consagrou o sexo pecaminoso, sujo, proibido e demoníaco. Todavia, não
legitima o enquadramento da sociedade atual que consubstanciou o sexo
como objeto de consumo, devasso e trivial. A proposta espiritista é da
energia criadora que necessita estar sedimentada pela lógica e pelo
sentimento, pelo respeito e entendimento, pela fidelidade e amor, a fim
de propiciar a excelsitude e a paz, ou seja, “Um sexo para a vida e não
uma vida para o sexo!”
Para Emmanuel, no livro “Vida e
Sexo”, diante das proposições a respeito do sexo, é justo sintetizar-se
todas as digressões possíveis nas seguintes normas: não proibição, mas
educação; não abstinência imposta, mas emprego digno, com o devido
respeito aos outros e a si mesmo; não indisciplina, mas controle; não
impulso livre, mas responsabilidade. Fora disso, é teorizar
simplesmente, para depois aprender ou reaprender com a experiência. Sem
isso, será enganar-nos, lutar sem proveito, sofrer e recomeçar a obra da
sublimação pessoal, tantas vezes quantas se fizerem precisas, pelos
mecanismos da reencarnação, porque a aplicação do sexo, ante a luz do
amor e da vida, é assunto pertinente à consciência de cada um.
Ninguém se burila de um dia para outro. Conversões religiosas
exteriores não alteram, de improviso, os impulsos do coração. Achamo-nos
muito longe da meta para alcançar o projeto de acrisolamento sexual. A
rigor, nenhum de nós consegue se conhecer tão exatamente, a ponto de
saber, hoje, qual o tamanho da experiência afetiva que nos aguarda no
futuro. Não há como penetrarmos nas consciências alheias e cada um de
nós, ante a Sabedoria Divina, é um caso particular, no que tange ao
amor, reclamando compreensão. Em face disso, muitos de nossos erros
imaginários na Terra são caminhos certos para o bem, ao passo que muitos
de nossos acertos hipotéticos são trilhas para o mal de que nos
desvencilharemos, um dia!...
A energia sexual, como
recurso da lei de atração, na perpetuidade do Universo, é inerente à
própria vida, gerando cargas magnéticas em todos os seres, face às
potencialidades criativas de que se reveste. À medida que a
individualidade evolui, passa a compreender que a energia sexual envolve
o impositivo de discernimento e responsabilidade em sua aplicação. Por
isso mesmo, deve estar controlada por valores morais que lhe garantam o
emprego digno, seja na criação de formas físicas, asseguradora da
família, ou na criação de obras beneméritas da sensibilidade e da
cultura para a reprodução e extensão do progresso e da experiência, da
beleza e do amor, na evolução e burilamento da vida no Planeta.
Nas ligações afetivas terrenas encontramos as grandes alegrias.
No entanto, é também dentro delas que somos habitualmente defrontados
pelas mais duras provações. Embora não percebamos de imediato,
recebemos, quase sempre, no companheiro ou na companheira da vida
íntima, os nossos próprios reflexos.
Analisemos o
matrimônio, por exemplo, que pode perfeitamente ser precedido de doçura e
esperança, mas isso não impede que os dias subsequentes, em sua marcha
incessante, tragam aos cônjuges os resultados das próprias criações que
deixaram para trás. Parceiro e parceira, nos compromissos do lar,
precisam reaprender na escola do amor, reconhecendo que, acima da
conjunção corpórea, fácil de concretizar, é imperioso que a dupla se
case, em espírito - sempre mais em espírito -, dia por dia. Até porque
extinta a fogueira da paixão na retorta da organização doméstica,
remanesce da combustão o ouro vivo do amor puro, que se valoriza, cada
vez mais, de alma para alma, habilitando o casal para mais altos
destinos na Vida Superior, até porque é o Espírito quem ama e não o
corpo, de sorte que, dissipada a ilusão material, o Espírito vê a
realidade que transcende à vida física.
Urge considerar
que a Vontade de Deus, na essência, é o dever em sua mais alta expressão
traçado para cada um de nós, no tempo chamado "hoje". E se o "hoje" jaz
viçado de complicações e problemas, a repontarem do "ontem", depende de
nós a harmonia ou o desequilíbrio do "amanhã". Destarte, o instinto
sexual, exprimindo amor em expansão incessante, nasce nas profundezas da
vida, orientando os processos da evolução.
Importa
considerar que diante do sexo, não nos achamos, de nenhum modo, à frente
de um despenhadeiro para as trevas, mas perante a fonte viva das
energias em que a Sabedoria do Universo situou o laboratório das formas
físicas e a usina dos estímulos espirituais mais intensos para a
execução das tarefas que esposamos, em regime de colaboração mútua,
visando ao rendimento do progresso e do aperfeiçoamento entre os homens.
Cada homem e cada mulher que ainda não se angelizou ou que
não se encontre em processo de bloqueio das possibilidades criativas, no
corpo ou na alma, traz, evidentemente, maior ou menor percentagem de
anseios sexuais, a se expressarem por sede de apoio afetivo. É
claramente nas lavras da experiência, errando e acertando e tornando a
errar para acertar com mais segurança, que cada um de nós - os filhos de
Deus em evolução na Terra - conseguirá sublimar os sentimentos que nos
são próprios, de modo a nos erguer, em definitivo, para a conquista da
felicidade celeste e do Amor Universal.
* Jorge Luiz Hessen é
natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. É Servidor Público
Federal lotado no INMETRO de Brasília; Formação acadêmica: Licenciado em
Estudos Sociais e Bacharel em História, Escritor (dois livros
publicados) Jornalista e articulista com vários artigos publicados na
Revista O médium de Juiz de Fora, Reformador da FEB, O Espírita de
Brasília (pertence ao conselho editor), do Jornal da Federação de Mato
Grosso e do Jornal da FEDERAÇÃO DO DF. Artigo gentilmente oferecido para
publicação no site do Instituto Espírita Batuíra de Saúde Mental.
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